Problemas gerados pelo uso equivocado dos conceitos de Inteligência

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Problemas gerados pelo uso equivocado dos conceitos de Inteligência

O uso equivocado e continuado dos conceitos de Inteligência produz diversos infortúnios. A causa desse problema é a falta de investimentos e de interesse do poder público na capacitação dos profissionais, problema comum em diversas áreas da Administração Pública brasileira.

Ainda que possuam boa vontade, os profissionais de Inteligência no Brasil, em sua grande maioria, não têm um arcabouço acadêmico tampouco treinamento adequado nos seus campos específicos e, portanto, não há um emprego sistemático do conhecimento, onde os métodos são visíveis e verificáveis, permitindo aplicabilidade à metodologia própria.

Essa falta de estudos acadêmicos e múltiplos conceitos têm acarretado em uma série de operações policiais anuladas[1] no âmbito do judiciário, órgãos governamentais se desentendendo e analistas de inteligência desenvolvendo trabalhos relacionados à persecução penal.

Uso de metodologia e o Ciclo de Produção de Conhecimento

É de grande valia estabelecer que o processo de produção do conhecimento de Inteligência assemelha-se a um trabalho acadêmico, pois se procura construir um relatório baseado em premissas que o sustentem. Por conseguinte, esse processo está ligado diretamente à metodologia científica, traduzida pelo Ciclo de Produção de Conhecimento (CPC), com suas fases determinadas e delimitadas.

A doutrina brasileira de informações identifica o ciclo da inteligência em três grandes etapas: orientação, produção e difusão. Na fase de produção de conhecimento, tem-se o ciclo que se inicia com o planejamento, passa pela reunião e segue para o processamento. O conhecimento produzido é, em seguida, difundido na última etapa, chamada difusão. (Gonçalves, 2018, p. 98)


Certamente devemos levar em consideração que o mundo dos tempos atuais é diferente daquele vivido pelos autores clássicos da Inteligência tradicional, logo, é plausível dizer que a Inteligência também deve evoluir. Entretanto, existem conceitos basilares que são indissociáveis da atividade de Inteligência e que não devem ser modificados, haja vista os diversos problemas gerados pela falta de entendimento do tema.

O uso de metodologia própria é substancialmente importante, pois se a atividade de inteligência visa assessorar um gestor qualquer através da produção do conhecimento, faz-se necessário que se estabeleça meios para a consecução desse propósito.

Natureza consultiva e a busca pela verdade

Outro ponto importante para entender a atividade de inteligência é a natureza consultiva, visando a construção do conhecimento no sentido de procurar maior aproximação com a verdade. O que importa é conhecer e não provar, o que difere da verdade judicial que permite apenas os meios admitidos no direito.

A relação do analista com o tomador de decisão deve ser precisa e confiável. O papel do tomador de decisão é, obviamente, decidir. O analista, justamente por ser técnico e metodológico, não pode fazer o papel dos dois. Ademais, o gestor possui, em tese, conhecimentos outros que podem subsidiá-lo com informações de um cenário mais abrangente, podendo tomar a melhor decisão em um contexto mais amplo.

Estes são pontos chave da atividade, são concepções fundamentais para entender a Inteligência. Identificado esses pressupostos, não há necessidade de se criar ou procurar entender os inúmeros conceitos existentes.

A falta de investimento em estudos e a ampliação da atividade vêm causando a proliferação de falsos conceitos e usos inadequados de expressões, cuja explanação e discussão devem ser levadas aos centros acadêmicos.

Todo mundo quer ser

O que se percebe, é que o significado de Inteligência está perdendo a sua essência, o seu núcleo. Existem definições que vão de encontro a sua natureza, a toda a evolução histórica que essa atividade sofreu pelo simples fato da vontade em se trocar a placa do setor de um determinado órgão pelo termo “Inteligência”.

A atividade poderia contribuir com mais eficiência ao assessoramento a gestores e autoridades governamentais, na formulação de políticas voltadas para as diferentes áreas que se opõem ao bom desenvolvimento coordenado do país.

Em um mundo cada vez mais complexo, estruturado em grandes redes e com uma diversidade de atores, os órgãos de informações não podem se dar ao luxo de atuarem isoladamente. Um sistema de inteligência fundamentado em arquipélagos de unidades autônomas e sem comunicação acaba resultado em fracasso nas funções básicas da inteligência, com consequências que podem ser letais para a sociedade, para o Estado, e para a Segurança Nacional. (Gonçalves, 2018, p. 80)

Falta cultura de Inteligência

A falta de uma cultura favorável à inteligência, associada ao desconhecimento da atividade e a sua visão distorcida dificulta e refletem no seu entendimento e na sua aplicação.

Gonçalves (2018) explica que convém conhecer as técnicas de obtenção de dados para a produção de conhecimento. Isso deve ocorrer tanto entre o pessoal de análise e operações quanto nos escalões superiores, principalmente entre os que formularão as diretrizes e farão solicitações.

É essencial que os tomadores de decisões conheçam as diferenças e tenham em mente os princípios norteadores da atividade de inteligência. Sem eles, a atividade de inteligência passa a ser amadora, sujeita a grandes erros e tendente ao fracasso.


[1] Por exemplo a operação Satiagraha e Operação Faktor anteriormente denominada Operação Boi Barrica.

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