Dafne foi o primeiro amor de Apolo. Não surgiu por acaso, mas pela malícia do Cupido. Apolo, envaidecido com sua recente vitória sobre Píton, viu o menino brincando com seu arco e suas setas e disse-lhe:
– O que está fazendo com armas mortíferas, menino? Deixe-as para as minhas mãos pois sou mais preparado e digno. Contenta-te com outras coisas.
– Tuas setas podem ferir todas as outras coisas, Apolo, mas as minhas podem ferir-te. – Respondeu o Cupido enraivecido.
Assim dizendo, o Cupido subiu numa rocha e tirou da aljava duas setas diferentes, uma de ouro feita para atrair o amor; outra de chumbo para afastá-lo. Com a seta de chumbo feriu a ninfa Dafne, filha do rio, e com a de ouro feriu Apolo. Sem demora, o deus foi tomado de amor pela donzela, mas esta sentiu horror à ideia de amar e rapidamente fugiu.
– Pare, filha de Peneu! – exclamou ele. Não fujas de mim, é por amor que te persigo. Sou o deus da medicina e conheço a virtude de todas as plantas medicinais, mas sofro de uma enfermidade que nada pode curar!
A ninfa continuou sua fuga, ignorando a súplica do deus, mas começou a fraquejar e, prestes a cair, ela invoca seu pai, o rio:
– Pai! Socorro! Destrói e transforma a beleza pela qual agradei tanto!
Mal pronunciara estas palavras, todos os seus membros pararam; seu peito começou a revestir-se de uma casca; seus cabelos transformaram-se em folhas e seus braços em galhos; os pés cravam-se no chão, como raízes, e seu rosto tornou-se a copa de um arbusto.
Apolo, mantendo-se apaixonado, abraçou-se aos ramos da árvore e beijou a madeira, mas até mesmo a madeira recuou de seus beijos.
– Já que não pode ser minha mulher – exclamou o deus – será a minha árvore. Loureiro, usarei tuas folhas como coroa; com elas enfeitarei minha lira e minha aljava; e quando os grandes conquistadores romanos caminharem à frente dos cortejos triunfais, será usada como coroas para suas cabeças. E, tão eternamente jovem quanto eu próprio, também hás de ser sempre verde e tuas folhas não envelhecerão.
Então o loureiro curvou seus ramos, como uma cabeça dando consentimento, e desde então é a árvore de Apolo, símbolo de vitória e nobreza.