Sorriso altaneiro para esconder os problemas

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Eu me nego a aplaudir uma operação que termina com a morte de um policial em praça pública. E não me venham com o termo “neutralizar” pra tentar distanciar a responsabilidade dos envolvidos em uma cadeia de ações e omissões desastrosas.

O Estado vira as costas durante muitos anos para a parte humana que compõe as polícias. Nesse momento não há recursos, não há nenhuma “ação técnica”. Quando algo eficaz pode ser feito, a resposta é a omissão, o puro descaso, ou pior: decisões desumanas. “Cada um com seus problemas”, é o núcleo da resposta que vai variar um pouco, mas entrega a mesma mensagem: SE VIRE.

Quando o problema atinge níveis agudos e o campo de resposta se estreita com poucas opções, surge o Estado “técnico” para “neutralizar” aquele que até então representava a solução das adversidades da sociedade. Lembre-se, assim como os profissionais da saúde, são as polícias que você chama quando está com qualquer dificuldade. Por que quem ajuda não é ajudado?

E não deixo a culpa nas mãos de um ente abstrato. A culpa também é minha: eu sou culpado quando viro as costas para um colega; sou culpado quando não enxergo sinais claros de que algo está errado com alguém que trabalha comigo; sou culpado quando só olho para o próprio umbigo; sou culpado quando apenas critico, sem buscar entender a realidade particular do meu semelhante; sou culpado quando faço piada com um assunto que destrói de dentro pra fora, de forma silenciosa; e serei muito mais culpado se aplaudir o resultado de um elo de ações deploráveis.

Se a água tende a mudar de estado quando atinge um ponto crítico, por que eu deveria achar que sou imune e conservarei minha lucidez eternamente? Não. Alguns suportarão mais, outros menos, mas no fundo você sabe que tem um limite, e eu também.

Enquanto meus cortes sangrarem, enquanto eu sentir sede e fome, enquanto eu for passível de doenças e alterações de humor, eu vou lembrar que atrás de cada farda há um frágil ser humano que carrega problemas semelhantes aos meus. Hoje quem morreu foi alguém distante, amanhã pode ser alguém próximo, ou amanhã pode ser eu.

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