O perigo tá dentro ou fora?

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Na farda, espera-se enfrentar o inimigo lá fora — o bandido, o risco, o confronto. Mas ninguém te prepara para o que te consome por dentro. Porque o verdadeiro desgaste não vem apenas da rua, mas dos corredores mofados, das vozes sussurradas nas costas, dos olhos que julgam e dos sistemas que punem quem ousa pensar diferente.

Lá fora, o risco é previsto. Aqui dentro, ele é silencioso, sorrateiro e diário. A fofoca se torna arma, a perseguição vira método. Quem não se alinha, vira alvo. Mérito é palavra bonita em discurso de formatura, porque na prática o que vale é o QI e a bajulação. O profissionalismo se curva diante da politicagem barata.

Promoções? Salários? Como se honra pagasse boleto. E ainda cobram que sorria e abrace a missão como se fosse um sacerdote, esquecendo que ele também é pai, mãe, filho, ser humano.

A sobrecarga horária vira regra, não exceção. Trocas de escala em cima da hora, jornadas extenuantes, plantões em sequência. Tudo isso sem a devida compensação, sem reconhecimento, sem respeito. O psicológico vai se deteriorando, mas quem adoece é visto como fraco, não como vítima de algo adoecedor.

E quando se olha para cima, para os que alcançaram o topo com o discurso de mudança, o que se vê é ainda mais frustração. Muitos daqueles que chegaram lá com a promessa de fazer diferente, de quebrar a sequência de erros, simplesmente se vendem — ou pior, vendem quem está abaixo. Se agarram ao poder com unhas e dentes, garantindo seus próprios direitos às custas dos direitos alheios. Traem os que ainda estão na linha de frente para manter seus privilégios intocados.

Justificam essa postura com base no sofrimento passado. Dizem que já penaram, que hoje merecem o conforto, como se a dor vivida no passado os autorizasse a perpetuar o ciclo em nome de “um bem maior para a instituição”. É o discurso da nobreza ressentida: agora que chegaram lá, a prioridade é manter o que conquistaram — mesmo que isso signifique minar os direitos dos demais.

Enquanto outras categorias lutam por melhorias salariais, condições dignas e valorização real… outra parece mirar a própria carne — exceto a do topo — para fazer cortes que alimentem o prato já farto dos mais favorecidos. Economia para você, direitos para eles. Cortam de baixo para manter o alto intocável.

A pergunta permanece: o perigo tá dentro ou fora?

Seja honesto: o que mais te fere — o disparo do inimigo ou o silêncio cúmplice de quem deveria estar do teu lado?

Enquanto a estrutura não mudar, continuaremos marchando, não em direção ao inimigo, mas em direção ao colapso. Porque o verdadeiro campo de batalha, infelizmente, ainda é interno.

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