O problema com o eterno

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Certamente a ideia do eterno colapsa quando passa a ignorar completamente as mudanças da vida, o movimento que está atrelado a tudo e a todos. Até a mais inerte das matérias está sujeita às transformações do universo, não seria desigual conosco.

Observe como um cometa cruza os céus durante um efêmero período de tempo e tem toda a atenção do mundo, sumindo logo em seguida. Sem promessas, sem cobranças, sem ilusões, apenas uma rápida e notável passagem. Sua brevidade não reduz sua intensidade, não traz desprezo ao momento vivido.

Seguindo essa lógica, contemple a lua, que se reinventa em seu período sinódico de 30 dias, mostrando toda sua imponência durante o estágio de lua cheia e renovando-se na fase de lua nova.

Por outro lado, as estrelas, fixas, de certo modo paradas, eternamente à disposição, mas igualmente ignoradas. Consequência do eterno, da certeza que algo é e assim sempre será. Você mergulha no comodismo e tende a ser esquecido, largado em stand by, vítima da sua não renovação, do seu eterno estado de conservação, vítima da falta de constante movimento.

Muito provavelmente algum centenário impotente, temendo o que o seu comodismo e a sua carência de mudança causariam, arquitetou a figura do casamento monogâmico e as suas juras eternas. “Até que a morte os separe”, ele considerou, soa poético, mas o tempo revelaria que o mais sensato seria: até que as mudanças da vida os separem.

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