O conhecimento perdido na Atividade de Inteligência: comunicação, aprimoramento e formação

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Conhecimento perdido na Atividade de Inteligência

Mesmo após mais de 20 anos de retomada da atividade de inteligência, é evidente a necessidade de um projeto que possibilite a análise e o monitoramento conjunto e facilite a produção de conhecimento estratégico e tático. Uma ferramenta desenvolvida que viabiliza a gestão de conhecimento para a tomada de decisões em todas as esferas da federação.

O resultado que se espera alcançar é o aumento da eficácia e da capacidade de resposta do poder público, com compartimentação de dados, mas sem secretismo exacerbado, competição ou canais burocráticos.

Para aprimoramento dos sistemas de inteligência e de combate ao crime organizado, o Estado tem que promover o compartilhamento de dados com estabelecimento de canais formais. Há bancos de dados institucionais da Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Exército, Marinha, Aeronáutica, Abin, Detran, bancos de dados policiais das delegacias especializadas em lavagem de dinheiro, imigração ilegal, assalto a banco e, ainda, os não-policiais como os da Receita Federal, Dataprev/INSS, CNIS, mas os setores responsáveis pelo gerenciamento dos dados respectivos não interagem, o que gera uma enorme quantidade de dados perdidos e pouco trabalhados.

Órgãos que disputam migalhas de informações

Mingardi, citado por Gomes (2009), esclarece que no caso brasileiro não existe um sistema definido. Cada Estado da federação tem ou não um sistema de inteligência policial e, na maioria das vezes, existe uma multiplicidade de órgãos que disputam migalhas de informações. Mesmo assim, a mídia relata rebeliões, ataques contra a polícia, explosões de caixas, membros corrompidos integrando organizações criminosas, e os órgãos policiais são pegos desprevenidos.

Existem muitos órgãos e pouca inteligênciaA dispersão de esforços começa na coleta de dados, seja através de agentes de campo ou da coleta de informações públicas. As diversas agências com frequência correm atrás do mesmo objetivo, através das mesmas fontes, por falta de comunicação ou delimitação de tarefas ou até por pura rivalidade. O mesmo ocorre na hora do armazenamento dos dados. Na maioria dos estados, os dados coletados pelos órgãos de segurança pública normalmente são armazenados em bancos de dados diferentes, muitas vezes ficando apenas no papel. (Mingardi apud Gomes, 2009)

Percebe-se a falta de comunicação entre as instituições, ausência de interface entre os sistemas informatizados, visão restrita do conhecimento e secretismo em razão de poucas informações que só têm sentido se reunidas, jamais quando pulverizadas. Infelizmente na prática a cultura dos órgãos da administração pública é a de não trocar informações. É preciso disseminar as informações e desburocratizar.

Conhecimento perdido

Outro fator preocupante é a perda do conhecimento, quando o operador e desenvolvedor do banco de dados não providencia uma interface amigável de comunicação com outros cadastros. Além disso, muitas vezes, é o próprio profissional de segurança pública que monta sua própria base de dados. Lamentavelmente o Estado não se preocupa com a continuidade desse trabalho hercúleo e a sua devida valorização.

Como consequência da manutenção dos serviços de inteligência como órgãos públicos burocráticos, sem aproximação, e focados apenas em problemas locais, acompanhamos o avanço desenfreado das organizações criminosas, que pulam de estado em estado ganhando força e desafiando o poder público, e o faz de conta das instituições que lutam para exibirem números de uma perspectiva que não deixe clara a total falha estatal no campo da segurança pública.

Considerando a criação do SISBIN e sua composição ampla e complexa, fica claro a importância da cooperação do sistema e principalmente do compartilhamento de dados e preservação do conhecimento de forma eficaz e útil. A compartimentação exacerbada inutiliza o conhecimento produzido. De nada vale um extenso banco de dados estadual se os estados limítrofes não possuem acesso a tal conhecimento para adotarem medidas conjuntas e pontuais.

Devem ser traçadas metas sincrônicas a serem cumpridas no tocante à criação e consulta de base de dados intergovernamentais; a integração de cadastro de identidades civis dos estados; sistemas de informações integrados entre as Polícias, Ministérios Públicos e Justiças Federal e Estadual, respeitando o sigilo e os limites legais de cada informação.

É preciso trabalhar com tecnologia da informação de forma integrada, destacando a importância de ações quanto a sistemas de informação, indicadores, estatística, pesquisa e análise.

O papel das academias e escolas de formação

Na construção de um modelo de gestão, principalmente quanto a gestão da atividade de inteligência, o papel das academias e escolas de formação profissional são fundamentais. Gonçalves (2018) lembra que a atividade de inteligência tem sido pouco estudada no Brasil, e entre as razões dessa lacuna está a aura de repúdio, desconhecimento e preconceito que envolve a percepção da opinião pública sobre os serviços secretos. Além disso são poucos os que têm acesso a uma doutrina de inteligência, assunto pouco publicado no país.

Essas situações demonstram a dificuldade que os profissionais da área enfrentam, haja vista que a atividade de produção de conhecimentos, no sentido de apoiar as atividades de prevenção e repressão dos fenômenos criminais e para o assessoramento, não é tratada de maneira sistemática. Isto não significa que não devam fazer Inteligência, pelo contrário, a utilização dessa atividade é fundamental em qualquer cenário.

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